Os fantasmas do passado

É de extrema importância realizarmos, de tempo em tempo, uma limpeza de fatos do passado que insistem em nos assombrar. A limpeza, não é simplesmente esquecer, mas sim, ressignificar os eventos e buscar extrair deles aquilo que nos tornará melhores como ser humano.

Não é fácil realizar tal ressignificação. Muita vezes, precisaremos de meditar várias vezes sobre uma determinada situação para, gradualmente conseguirmos diminuir seus efeitos sofre nossas emoções, sobre nossos filtros da realidade, sobre o nosso dia a dia, até conseguirmos separar o que é nossa responsabilidade, o que precisamos mudar, onde precisamos crescer, o que ainda pode ser feito (se é que há algo que possa ser feito) e quando é hora de virar a página.

Li a reportagem (Leia Aqui) sobre uma mulher que foi vítima de exposição íntima na internet. Essa reportagem ilustra muito bem os dois lados da moeda do que eu disse aqui. Sem se propor a fazer julgamentos, porque isso não cabe a mim, percebo de um lado o homem que não conseguiu ressignificar o fim do relacionamento e, esse fantasma o levou a deixar a situação ainda pior, para ele e também para a outra pessoa. Por outro lado, vejo uma mulher que sofreu muito, mas conseguiu ressignificar esse sofrimento, transformando-o em força para ajudar a outras mulheres vítima do mesmo crime.

Não consigo imaginar, para além do sabor da vingança, nada que possa ter sido positivo para o homem que divulgou tais fotos. Pelo contrário. Sem ainda levar em conta os problemas com a justiça, não vejo onde esse homem pode ter se tornado mais feliz, em ver o sofrimento da outra pessoa. Ter que cumprir a ameaça, o fez enxergar o quão indigno do amor daquela mulher, o quão era incapaz de reconquistá-la, o quão era incapaz de ser maior que a dificuldade.

Ela, por outro lado, foi jogada ao limbo social, moral e pessoal. Contou, possivelmente com ajuda de algumas pessoas, porém viu outras pessoas do seu convívio virar-lhe as costas. Suportou, através do tempo o sofrimento dos seus filhos. Ressignificou, percebeu que era preciso fazer e não apenas lamentar. Fez se grande quando, apesar de tudo o que passava,  classificou como dobrado o sofrimento pela dor de seus filhos.

Embora pudesse obter algumas pequenas vitórias judiciais, se deu conta que nada seria suficientemente justo para que o agressor pudesse pagar pelo que fez e, mais que isso, a legislação era ineficiente e incapaz de coibir que novos agressores fizessem outras mulheres sofrerem o que ela sofreu. A ONG Marias da Internet vem, em primeiro lugar incentivar à outras mulheres não entregar-se à derrota pela covardia de alguém. Vem incentivar à outras mulheres a serem maiores e melhores que seus agressores e busca, uma legislação mais adequada aos tempos que vivemos.

Aquilo que poderia ser um fantasma do passado, que a perseguiria por toda a vida causando dor e sofrimento, virou uma maneira de ajudar à outras pessoas, obter grandes vitórias. O fantasma ficou pequeno e foi engolido pelo promissor futuro dessa grande mulher.

Veja reportagem em: http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/minhahistoria/2017/05/1885458-crime-na-internet-e-ferida-aberta-diz-mae-sobre-fotos-nuas-vazadas-pelo-ex.shtml

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