Honesto e ficha limpa terão mais chances nas urnas
Enquete mostra que honestidade é a virtude que será mais levada em conta na hora de decidir o voto
- ACidade ON – Monize Zampieri – Leia aqui a publicação original
Enquete realizada pelo A Cidade com 30 eleitores nas duas últimas semanas revela que honestidade, passado limpo e ética estão entre as principais características desejadas pela população em seus representantes nas diferentes esferas do poder.
Apesar de não serem virtudes facilmente detectáveis ou mensuráveis, de acordo com especialistas, podem ser avaliadas pelo histórico e no dia a dia de cada político.
“O poder muitas vezes corrompe e muda a vida política. Mas, ainda assim, acredito que analisar o histórico do candidato seja o melhor termômetro para medir seu caráter”, destaca o soldador Antônio Carlos da Silva, 26 anos, morador do Jóquei Clube.
Promessas vãs
Prometer apenas o que se pode cumprir também é fundamental aos olhos da maioria dos entrevistados.
“As propostas dos candidatos precisam ser coerentes. Não adianta prometer o que não lhe compete porque não vai cumprir. A palavra é fundamental, o político que promete demais é mentiroso e perigoso”, avaliou a diarista Ana Lúcia Guim, 47 anos, moradora do bairro Heitor Rigon.
Para o consultor político Helder de Carvalho, embora os eleitores tenham ideia sobre o perfil que desejam, a principal preocupação é com o dia a dia – trabalho, contas, filhos. “Por esse motivo, a maioria dos eleitores decide o voto nas últimas semanas, verificando poucas informações, geralmente fornecidas pelas próprias campanhas dos candidatos que aparecem mais ou que já estão no poder. Ao fazerem isso, acreditam realmente que estão fazendo a melhor escolha e não conseguem compreender porque as mudanças desejadas dificilmente acontecem”, frisou.
Ser religioso, independentemente da crença, é importante na opinião de parte dos entrevistados.
“O político precisa ter, no mínimo, princípio cristão para perceber melhor o seu próximo. Diante da facilidade de corrupção, a religião é uma base para a vida”, enfatiza o bancário Sérgio Cordeiro, 47 anos, morador do bairro Santa Cruz.
Escolaridade
A maioria também defende que o político tenha nível superior completo. “É importante ter faculdade. Quanto mais conhecimento melhor, pois o político terá mais facilidade para se comunicar e lidar com as situações do dia a dia”, opina a promotora de vendas Andreia Santos, 40 anos, moradora do bairro Quintino Facci.
Para políticos, honestidade é a principal virtude
Para os deputados Baleia Rossi (federal/PMDB), Rafael Silva (estadual/PDT) e Welson Gasparini (estadual/PSDB), a honestidade é a principal virtude de um político. O trio diz concordar com a maior parte das características apontadas pelos entrevistados.
“Honestidade é o princípio de tudo. O político honesto se preocupa com o ser humano, em não trair a população e nunca ter vantagem pessoal. O político precisa ter independência e não se prender a grupos econômicos e políticos”, diz Rafael.
Para Gasparini, além de honesto, o político precisa ter capacidade, idealismo e coragem. “Essas são as principais virtudes. Por isso, o eleitor precisa levar com seriedade a importância do voto. Deve agir com a emoção, tendo prazer em votar, e com a razão, sabendo escolher o melhor para representá-lo.”
Para Baleia, “com a avalanche de escândalos e de políticos que agem de má-fé, pensando apenas em benefícios próprios, o eleitor passou a usar como critério e procurar um perfil que, na verdade, deveria ser obrigação e não um diferencial. Acredito na transparência como palavra de ordem para o bom político e na verdade como principal arma contra o mau político”.
Misturar política com religião é ‘pecado mortal’
Misturar política com religião – uma prática cada vez mais enraizada nas diferentes esferas do poder, segundo especialistas – é considerado “pecado mortal” na opinião da maioria dos entrevistados.
Para o educador, palestrante e pastor Domingos Mendes Alves, “político ruim é aquele que faz da religião e/ou da política um meio de promoção pessoal, exploração e opressão”.
“É todo aquele cujas atitudes e palavras revelam o caráter de uma pessoa que é falsa, hipócrita, não é confiável, não é séria diante de Deus e dos seres humanos, cujo foco de sua liderança política ou governo é o benefício pessoal ou familiar”, acrescentou.
“Eu não votaria jamais em um candidato que mistura religião com política, que tenta ganhar voto falando de Deus, considero desprezível, apelação. Pior do que isso é fazer piada com a política. Acredito que não se coloca humor em algo sério”, dispara a vendedora Susen Paula Caetano, 34 anos, moradora do bairro Lagoinha, zona Leste de Ribeirão.
Análise – O voto é passional
“Existe diferença entre traçar o perfil do que seria um político ideal e o ato de votar. Ao traçar o perfil, você pensa e fala o que seria um homem virtuoso, cheio de virtudes. Já o voto é passional, você age com o coração. É forçoso admitir que, eleição após eleição, tem se tomado mais consciência, lembrando que votar é um ato coletivo. Talvez esse seja o primeiro momento ao longo da história que duas gerações estão votando juntas. Esse aprendizado de votar é transgeracional. Está tendo uma mudança do perfil do político pretendido. Aos poucos, o eleitor está passando a ser racional, isso pode ser uma tendência. Mas ainda vão demorar algumas décadas para votarmos com total consciência. Ainda precisamos nos arrepender muito do voto para aprendermos a votar certo. Ainda vamos ver o eleitor se decepcionar emocionalmente, mas não conseguir raciocinar e apontar o caminho, só se sentir órfão. O maior exemplo do voto passional é o que envolve religião. Acredito que a bancada evangélica dominará todas as esferas. Quanto mais instruído o eleitor for, mais consciente tende a ser o seu voto. O exercício de raciocinar exige abstração e é na escola que aprendemos a abstrair, pegar um caso concreto e tirar lições dele. Quando não raciocina, o eleitor se deixa seduzir pelo candidato que foi num churrasco e lhe deu a mão ou pelo que fez um discurso populista ou ainda pelo que lhe pagou um botijão de gás.”
Fábio Pacano, Cientista político