O meu eleitor é racional!

O meu eleitor é racional!

É quase sempre a mesma coisa. Vamos fazer o briefing com o cliente e ele jura que o eleitor dele vai votar racionalmente. Já tem prontos discursos e direcionamento da campanha, assim como tinha das outras vezes que perdeu a eleição, mas tem certeza que dessa vez será diferente porque o eleitor está mais ‘maduro’.

É aí que minha formação em História  liga um alerta: O Homo Sapiens em 200 mil anos não consegue ter o controle total e irrestrito do lado emocional, biológico e genético, mas o eleitor, nos últimos 4 anos, amadureceu a ponto de votar de maneira racional. Será?

De fato, há um discurso muito forte de racionalidade. Pude observar isso em uma sala de aula, de 7º ano da rede Pública do Estado de SP. Fiz um questionário com pais e alunos  sobre a importância da educação. Os resultados (dos discursos) foram maravilhosos. Ambos se preocupavam muito com a educação, acreditavam que um futuro melhor depende da educação, e que, educação é prioridade.  Na primeira reunião de pais, referente ao 1º Bimestre, dos 32 alunos, apenas os pais de 2 foram à reunião para pegar o boletim, conhecer os professores e saber como estava o rendimento escolar do filho na escola. Por parte dos alunos – e aí é até compreensível, pela falta de juízo –  a prioridade da educação se desfaz nas ansiedades da idade, como por exemplo, matar aula para namoricar do lado de fora da escola.  Onde está a ‘racionalidade’ desses pais – que são os mesmos eleitores?

Outro exemplo: uma pesquisa do Creci aponta: Intenção de Comprar carro é alta, mas prioridade é a casa própria (Clique para ler). Isso parece ser muito racional. Porém, na prática, quando pesquisamos o objetivo do financiamento, verificamos resultados diferentes para homens e mulheres:

pesquisa

Ora, se até mesmo com a pesquisa pode-se correr o risco de cair no discurso do racionalmente correto, imagina só apenas na base do achismo.

Nesse campo, estudos recentes de NeuroMarketing têm demonstrado mais assertividade. Propõe que, nossas decisões são tomadas sempre em conjunto por 3 partes do nosso cérebro: Racional, Emocional e Basal – sendo este último a parte mais antiga formação cerebral, encontrada em vários animais, inclusive répteis.

Justamente nessa parte primitiva do Cérebro – a menos racional –  encontra-se instintos de sobrevivência e reprodução. Para o velho cérebro, educação não tem nada a ver com sobrevivência ou reprodução. Já a compra de um carro, tudo a ver:

Sobrevivência…  Principalmente homens são apaixonados por velocidade.  Poderia isto ter a ver com alcançar a presa ou sobreviver pela fuga, tal qual no homo sapiens de 200 mil anos?

Reprodução:  bom..  só mesmo um ser irracional (e não o seu eleitor)  para acreditar que isso tem alguma coisa a ver com carros.

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Verificamos na pesquisa que os investimentos em educação (pagar a faculdade) ficam muito abaixo de comprar eletrônicos, e, entre o público masculino, o carro representa mais de 40% dos contratos de financimaneto (será que não existem outras necessidades prioritárias, como na pesquisa do CRECI?)

Qualquer racionalista ficaria louco com esse números, que deixam claro a dificuldade das pesquisas, principalmente as qualitativas,  em filtrar discursos evidenciando a disparidade entre o que se responde  e o que se faz. essa reflexão poderia nos dar uma pista, apesar do discurso racional,  sobre qual parte do cérebro predomina, ainda que de maneira inconsciente, nas nossas decisões?

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